Criadordemundos1

Sobre o Blog

Você já deve ter chegado em uma lancheria e ao abrir o cardápio deparou-se com o Xis-Tudo. E só pede essa opção quando está bêbado. Ou não tem mais nada que comer mesmo...
Aqui não é diferente. Tem poesia, tem música, tem as minhas histórias, tem filmes, HQs, o que eu penso e o que eu deixo de pensar.
Fiz esse blog porque tive vontade de fazer algo diferente. Saiu sem pretenção, sem projeto e tá aqui...
Se gostou, deixe um comentário... E se não gostou, me mande bem longe.
Alegre-se ou entristeça-se... Fica a vontade.

O CASO DA DESCENDÊNCIA ITALIANA

0 comentários

Após ter chegado a Bagé, dia 23 de dezembro, comecei a fazer uma séria de perguntas para a minha avó Petronila. Ela não lembrava de muita coisa. Foi no desenrolar dos fatos que ela começou a lembrar. Na segunda-feira estava chuvoso, quase não saí de casa. Na terça-feira, dia 24, véspera de Natal, a vó Petronila havia comentado que a Eliana, filha do tio Jorge Ricardo - que já morreu e que era irmão da mãe - havia feito uma consulta com uma médica e que essa médica tinha uma pesquisa pronta e publicada em livro sobre as casas das famílias de Bagé e que havia citado o nome Ricardo em seu livro. Então fui visitar a Eliana e lá consegui o telefone da Dra. Elizabeth Fagundes. Depois de ter chegado na casa da minha avó, liguei para a Dra. Elizabeth. Não obtive sucesso. O telefone tocou, tocou e ninguém atendeu. Era hora de sair. Fui até o bispado e ver se havia alguma coisa por lá. Custei para achar o bispado, mas encontrei. Lá uma menina chamada Maiara me atendeu. Também não obtive sucesso, pois eu não tinha datas a não ser o nascimento dos meus avós paternos e avós maternos. Isso não ajudou muito. Mas mesmo assim pedi que fizesse uma pesquisa, para descobrir. A menina chegou a comentar que o cartório de registro civil, talvez fosse a solução.
Já passava do meio dia, era hora de abandonar a investigação e entrar no clima de Natal. Tudo começou a fechar, bancos, cartórios, etc... Exceto o comércio.
Almocei na casa da tia Elvira (antiga casa da vó Zoa). A noite nos preparamos para mais um Natal em família. Esse ano foi muito legal. A Caren, filha do tio Nei Ricardo dirigiu a oração e fez com que todos agradecessem e falassem um pouco sobre o ano que havia passado. Recebemos uma visita inesperada dos primos da família Machado, o Mauro e o Tiago, ambos filhos do tio Paulinho. Foram nos visitar e acabaram participando de nossa oração. Depois de comermos a ceia, fizemos o amigo secreto. E depois todos foram embora. Eu fui dormir tarde. Eram três e meia da manhã.


No dia de Natal, 25, fomos almoçar na Tia Elvira. Todos da família Machado que estavam em Bagé se reuniram lá. Estava bom. Só ficava ruim quando acontecia algum bate-boca por causa da tia Heloísa, que tinha mania de saber tudo. Mas como isso faz parte dessa família, a gente acabava acostumando. No dia 26, logo pela manhã liguei para a casa da Dra. Elizabeth Fagundes. Consegui falar com ela e pediu-me que passasse em seu consultório a tarde. Contou-me que havia feito uma pesquisa sobre as casas de Bagé e seus antigos proprietários. Chegou a dizer que provavelmente os Ricardos seriam italianos. Combinei de passar na Dra. Elizabeth pelas 17 horas. Com os comentários sobre uma provável casa da família Ricardo o vô Jorge que é padrasto da minha mãe e nos acostumamos a chamá-lo de avô desde pequenos, disse que havia uma casa perto da Catedral de Bagé que realmente era da família Ricardo a muito tempo e que não sabia se havia alguém morando lá. Foi então que o assunto começou a ficar cada vez mais interessante. O Saulo, meu irmão, que iria voltar para Pelotas naquele dia, resolveu ficar em Bagé para ajudar na investigação.

Catedral São Sebastião - Bagé RS.

Depois do almoço, lá pelas 14 horas resolvemos sair. Fomos em direção ao centro da cidade. De posse de minha agenda, onde havia feito algumas anotações, inclusive um mapa com o suposto local da casa dos Ricardos. Chegamos a uma casa de esquina, de cimento escuro bem conservado. Mas era antiga. Batemos na porta. O sol estava forte e não havia uma sombra para nos abrigar. A porta se abriu e uma jovem de aproximadamente 27 anos apareceu.
- Boa tarde, estamos fazendo uma pesquisa, e queremos saber se quem morou nessa casa antes de ti era alguém da família Ricardo. - Disse eu.
- Olha... - disse a garota - O melhor é vocês perguntarem ao meu avô Sebastião que mora na rua de trás, número 74. Foi ele quem comprou essa casa.

Agradecemos e seguimos nosso caminho. Fomos até a rua de trás. Ao chegarmos, vi uma casa de frente pequena, com vidros arredondados na porta. A massa que segurava o vidro fazia pouco tempo que estava ali. Preocupei-me em bater na porta. Bati com pouca força. Ficamos eu e o Saulo aguardando no Sol. Estava muito quente. Ninguém veio nos atender.
- Acho que ninguém ouviu Mano. - disse o Saulo.
Então bati com a chave do carro no vidro da janela ao lado. Ficamos aguardando e ainda não vinham nos atender. Foi então que o Saulo disse.
- Deixa pra mim. E começou a bater forte na porta. Na segunda batida a porta se abriu e um senhor alto e forte, aparentando uns 70 anos apareceu olhando para o Saulo e para mim. O Saulo ficou envergonhado e logo foi se desculpando.
- Puxa... Desculpe por ter batido na sua porta muito forte, pensamos que ninguém tinha ouvido.

- Tudo bem, - disse o Sr. Sebastião.

- Como vai o senhor, tudo bem? - Disse eu - Estamos fazendo uma pesquisa e gostaríamos de saber se alguém de sobre nome Ricardo morou na sua casa antes.
- Não - disse ele - Essa casa eu comprei de outra pessoa, mas os Delduca e Ricardo moram em outra casa na esquina da Sete de Setembro com a Dr. Pena.
Agradecemos pela informação e pela boa vontade de nos atender e nos desculpamos pelo incômodo. Saímos para a tal casa dos Delduca e Ricardo. Realmente havia uma casa e provavelmente essa seria nossa grande chance de provar nosso vínculo com a Itália. Chegamos na casa. Já eram 15 e 30. O Sol continuava forte, no céu não havia nuvens. Estávamos de bermuda e camiseta e mesmo assim estávamos suando. Fazia aproximadamente uns 36 graus. Muito quente para o sul do país. Estava na hora de enfrentar alguém que talvez fosse da família ou tivesse alguma notícia de nossos antepassados. A casa era bem antiga com uma porta de madeira bem alta e o forro no hall de entrada era de madeira e também bem alto. Havia um pequeno portão que dividia o hall de entrada e logo havia duas portas, uma de frente para outra. O Saulo lembrou logo de um sepulcro.
- Parecem aquelas casinhas de cemitério - Disse ele, abrindo o portãozinho.
- Em qual porta vamos bater Saulo?
- Vamos bater nessa que tem campainha - disse ele.
- E o que vamos dizer?

- Vamos dizer que estamos fazendo uma pesquisa e que precisamos de dados sobre a família etc...
Então o Saulo apertou a campainha e ficamos aguardando. Não demorou muito para aparecer alguém. A porta se abriu e surgiu uma negra alta, forte com o cabelo "Black Power", aparentando uns 50 anos, mais ou menos. Estava vestindo uma camiseta branca chinelos e calça jeans.
- Sim? - disse ela.
Dessa vez o Saulo tomou as rédeas da conversa e disse àquela senhora que estávamos fazendo uma pesquisa e precisávamos falar com o dono da casa e que precisávamos saber de quem era a casa e se foi comprada ou vendida etc... Creio eu que assustamos a senhora que provavelmente era a pessoa que cuidava dos afazeres da casa.
- Não, essa casa aqui não é de quem vocês estão procurando e o dono dessa casa já morreu! - Disse ela com olhar de brava, fechando os olhos com ar imponente.
- Mas minha senhora - disse o Saulo - É que estamos procurando informações sobre os antigos moradores dessa casa, não tem ninguém nessa casa que possa nos ajudar? - Olha, tem a Dona Leda, mas ela está muito doente e não vai poder atender vocês.
- Será que a senhora pode perguntar para a Dona Leda se havia alguém nessa casa da família Ricardo? - Disse eu interrompendo seu raciocínio.
- Espera um pouco. - disse ela fechando a porta. Ficamos aguardando. Olhei para o Saulo e fizemos a mesma cara, pressionando os lábios e imaginando que aquela mulher estava dificultando as coisas. Mas tudo bem. Faz parte das investigações. Naquele momento, lembrei das investigações policiais, os altos e baixos. Não demorou muito e apareceu a mulher novamente.
- Olha, ela disse que não sabe e não tem ninguém que possa ajudar vocês, terão que voltar outro dia e bateu a porta na nossa cara.

Ficamos parados ali, por alguns segundos... Pensando
- Puta que o pariu, essa mulher não quer nos ajudar. - Falou o Saulo.

- Vamos embora Saulo. Temos que ir ao cartório de Registro Civil e pegar o Gerson (nosso irmão). O Gerson queria participar da investigação, mas por estar na casa da avó da esposa dele, ficava mais difícil de estar junto conosco. Fomos buscá-lo e depois fomos ao cartório. Ao chegarmos no cartório vimos que as coisas iam ser bem difíceis, ou demoradas. Só haviam papéis em cima de mesas e máquinas de escrever. Não havia um computador se quer. Encostamo-nos no balcão. Logo uma senhora com um vestido marrom, gorda e cabelo curto veio nos atender. Pedimos a ela uma segunda via da certidão de nascimento do vô Raul. Ela anotou a data de nascimento e a naturalidade. E disse que na próxima semana estaria pronto.
- Mas senhora - disse eu - Amanhã terei que viajar para Porto Alegre. Não somos daqui e estamos fazendo uma pesquisa de cidadania Italiana. Aí ela chamou um homem careca de óculos, aparentando uns 60 anos e explicou a situação. O homem veio e disse:
- Olha, amanhã talvez seja impossível, mas venham amanhã, vamos ver...
Não nos disse nem tchau.
Já eram 17 horas. Tinha que ir ao consultório da doutora Elizabeth. Entramos no carro e tocamos para lá. Alguns minutos e estacionamos na frente do consultório. Descemos e entramos. Havia duas moças que eram as recepcionistas do consultório, ambas negras e gordas.
- A Dra Elizabeth está? - indaguei eu.

- Não, ela acabou de sair. Tu és o rapaz que está procurando sobre a família Ricardo? Ela deixou esse recado, pediu que tu ligasses amanhã, que ela irá fazer uma pesquisa.
Fomos embora sem resultados.
O dia foi cansativo. Mas aproveitamos bem. No dia seguinte teríamos muitas tarefas. Levei o Gerson até a casa da avó da Aline, sua esposa e voltamos eu e o Saulo para a casa da vó Petronila. Chegando lá contamos as novidades e o nosso dia como havia sido. A noite estava quente. Fomos dormir perto das 2 da manhã.

Cartório de Bagé

No dia 27, sexta-feira, acordamos as 10 e 30. Levantamos, cada um tomou um banho e saímos para almoçar na casa da tia Elvira. Depois de almoçarmos começamos nossa jornada. Fui buscar o Gerson para participar de nossas investigações. Era hora de ir até o Registro de Imóveis. Provavelmente nosso tataravós havia negociado algum imóvel. entramos em uma fila por ordem de chamada. O nosso número de atendimento era 99. Após esperar algumas chamadas, lá estávamos nós três encostados em um balcão novamente e um senhor aparentando seus 50 anos nos atendendo.
- Por favor, nós estamos fazendo uma pesquisa e precisamos descobrir se João Bibiano Ricardo ou Paulino Gordiano Ricardo fizeram alguma negociação nessa cidade. - disse o Saulo. Dessa vez havia computadores. Talvez conseguiríamos alguma coisa mais rápido. O homem colocou o nome de Paulino Giordano Ricardo no computador e logo saiu uma negociação feita em 1908. Não trazia a nacionalidade. Então ele virou-se para nós e disse:
- Olha, esse documento só poderá sair para vocês na semana que vem, porque tem muita gente na espera. Aí começou a choradeira. Começamos a falar quase ao mesmo tempo, que não éramos de lá e que tínhamos que viajar de volta para Porto Alegre e que aquilo era de suma importância para a nossa pesquisa, etc... E o homem nos interrompeu.
- Esperem, vou tentar para hoje. Ficamos aguardando. E logo o registro estava em cima do balcão. Valeu a choradeira.
- Deixa eu ver, deixa eu ver, falava eu o Gerson e o Saulo, todos ansiosos.
Paguei R$ 9,70 e fomos embora. Próxima parada, consultório da Dra. Elizabeth. Alguns minutos e lá estávamos nós, de novo no consultório da doutora. E mais uma vez as recepcionistas negras gordas me disseram:
- Olha, ela já foi, mas ela pediu que tu fosses a casa dela pelas 20 horas, ou telefonasse.
Pensei logo que havia marcado uma janta na casa do tio Nei Ricardo e não poderia ir a casa da Dra. Elizabeth. Seria a última noite em Bagé e eu, o Saulo, o Gerson, a Aline, esposa do Gerson e sua filhinha Isadora, iríamos jantar na casa do tio, com sua família. Não poderia ir até a casa da Dra. Elizabeth. Ficamos nós três naquele impasse, sem saber o que faríamos.
- Eu posso ir lá contigo mano. - Disse o Saulo.
- Não Saulo! Deixa o mano ir lá e a gente vai pro tio Nei.
Então resolvi que iria ligar a noite, afinal não havia nada concreto até o presente momento. Era hora de ir ao Cartório de Registro Civil. Ainda tinha a segunda via da certidão de nascimento do vô Raul Ricardo para conseguir. Já eram aproximadamente 17 horas. Chegamos e logo fomos nós três para o balcão novamente. E lá vinha a velha com o mesmo vestido marrom nos atender.
- Pois não? - Disse ela.
- Viemos atrás de uma segunda via de certidão de nascimento de Raul Alves Ricardo, estivemos aqui ontem, lembra? - Eu falei.
Estava torcendo que aquela gente que parecia não ter a mínima vontade de trabalhar, sem um sorriso no rosto, conseguisse algo tão importante para nós naquele momento. Afinal estávamos atrás de alguma coisa que poderia mudar nossas vidas. Tinha que conseguir a cidadania Italiana para a minha mãe. Consequentemente conseguiria também para nós. Assim eu poderia viajar para Itália, estudar e não ter problemas com passaporte.
- Eu te dei o recibo? - perguntou a mulher voltando ao balcão.

- Não senhora. - Respondi. Enquanto isso os guris estavam comendo um picolé, cada um.
- Quer mano? - perguntou o Saulo esticando o picolé que eu nem sabia o sabor, pingando no balcão do Registro Civil.

- Olha aí Saulo!! Tá pingando no balcão! Não quero.

- Tu viu o picolezeiro dizer que tem picolé de 50, de 60, de 80 e de 1 real ? - Disse o Gerson.
- Não. - Respondi sorrindo.
Enquanto isso estávamos esperando. Acho que o papel viria. De repente apareceu a mulher com o papel na mão, carimbando ele todo.
- São R$ 10,70 (dez reais e setenta centavos).
Ótimo. Lá foi mais uma grana. Mas vai ser por uma boa causa. Assim espero.
- Deixa eu ver mano, deixa eu ver!! - Diziam o Gerson e o Saulo, já sem os picolés.
- E agora? Só falta a mulher da casa dos Ricardo. - Falei eu.
- Vamos lá e se aquela negrona não deixar a gente entrar a gente entra a força e diz que a mulher que mora lá é nossa tia. - Falou o Saulo sorrindo.

Não tínhamos mais nada a perder. Era a nossa última chance. Entramos todos no carro. Dessa vez o Gerson estava dirigindo.


Chegamos na frente da casa e ficamos parados dentro do carro.

- E aí?? - perguntou o Gerson.

- Eu acho que tu devia entrar lá Saulo, sozinho e eu fico na retaguarda, qualquer coisa eu entro atirando - Falei rindo.
- Não mano, a gente tem que entrar nós dois. Ficamos naquele impasse até decidir que eu entraria junto com o Saulo.
- Eu vou estacionar o carro dobrando a esquina e fico esperando vocês ali - disse o Gerson.
Lá fomos eu e o Saulo mais uma vez para a casa de sepulcro, esperando a mulher negra abrir a porta e dificultar as coisas novamente. Apertamos a companhia e ficamos aguardando ela aparecer. - Seja o que Deus quiser - pensei. De repente a porta se abriu e apareceu um jovem com pouco mais de 15 anos, sorrindo. - A que ótimo ver alguém com um sorriso no rosto, sem desconfiança. - Pensei.
- Olá, boa tarde. Tu é Delduca?
- Sim. - Respondeu ele.
- Nós somos da família Ricardo e estamos fazendo uma pesquisa sobre o pessoal que morava nessa casa e...

- A minha avó, ela sabe mais sobre isso, eu vou chamá-la. - Interrompeu o garoto.
- Vó!!, vó!! Tem um pessoal aqui querendo falar com a senhora.
Apareceu uma senhora aparentando uns cinquenta e poucos anos, gordinha e baixinha.
- Boa tarde, pois não?
- Boa tarde. Nós somos netos de Raul Alves Ricardo, não sei se a senhora o conheceu e estamos fazendo uma pesquisa... - Disse eu sem terminar de falar, fui interrompido novamente. Isso já é de costume quando as pessoas querem ajudar.
- Olha, eu não sei muita coisa, mas a minha mãe sabe, entrem, entrem! Minha mãe já tem 92 anos, mas ela vai saber responder o que vocês precisarem...

Aquele momento se tornou a peça chave para toda a nossa jornada. Estávamos entrando na casa dos Ricardo ou dos Delduca. Estávamos prestes a saber da verdade.,. Se João Bibiano Ricardo ou o pai dele tinham vindo da Itália ou não. Estávamos chegando perto de um corredor e logo avistamos uma cadeira que estava de costas para a sala. Havia alguém sentado nela. Na medida em que nos aproximava eu sentia algo diferente, como se fosse descobrir tudo, como uma viagem no tempo. Ia ver alguém que conheceu meus tataravós, meus bisavós, meu avô, já falecido que nem o conheci. E essa pessoa estava viva... Viva. Para me contar o que havia acontecido... Foi então que olhei suas mãos ao me aproximar. Estavam enrugadas. Mas as unhas ainda estavam bem tratadas. O Saulo estava perto de mim, ao meu lado.
- Mãe!! - Gritou a filha ao lado dela. - Esses rapazes são da família Ricardo e querem conversar com a senhora! Percebi que ela estava surda. E estava bem velha. E que talvez eu não a veria mais... Ela olhou para mim e olhou para o Saulo. Seu rosto não tinha as feições de nossa família. Tinha um cabelo cheio arredondado e pintado de cor avermelhado. Ela parecia estar bem tratada, apesar de alguma doença que não sabíamos. Ela sorriu.


- Boa tarde, como vai a senhora?! - Falei com voz alta para que ela pudesse me ouvir. Nós somos netos de Raul Alves Ricardo.
- Tudo bem? - perguntou ela sorrindo. - Eu sou prima do Raul. A filha da dona Leda a levantou e dizia que era melhor irmos para a sala conversar. Enquanto a Dona Leda levantava, respirava fundo, cansada, com dificuldade..
- Eu já estou muito velha - dizia. - Vamos sentar na sala.
- E todos foram para a sala. Eu o Saulo, a Filha da Dona Leda, a Dona Leda e seu bisneto.
Quando sentamos, Dona Leda olhou para o Saulo com ternura e sorriu mais ainda.
- Ele tem os traços do Raul. Ele é muito parecido com o Raul quando era novo.
- Nós temos mais um irmão, que não está aqui agora, que é mais parecido ainda com o vô Raul. - disse o Saulo.

Então eu expliquei a ela o que estávamos fazendo ali e ao mesmo tempo estávamos muito felizes de estar perto dela, afinal ela era a prova viva que poderia dizer o que havia e o que não havia acontecido naqueles tempos. E perguntei-lhe:

- Dona Leda, a senhora sabe se o seu avô, João Bibiano Ricardo, ou o seu pai eram italianos? Ela levantou o rosto e olhou para o teto e disse:
- Não. Eles eram brasileiros.


Naquele instante fiquei pensando... Trabalhamos bastante. Não conseguimos o que queríamos. Mas foi tudo perfeito. Foram os dias de Natal que jamais esquecerei. Conversamos um pouco mais e ela falou do casamento de uma Delduca com um Ricardo, onde talvez tenha originado toda essa situação. Falou também da vó Petronila, que era uma pessoa "de luz", maravilhosa, uma santa pessoa. E seus netos sabem que é. Nesse momento eu agradeci. E ela disse que não precisava agradecer pela verdade.


Os fatos aqui relatados são verdadeiros.



QUADRINHOS RAROS NO BRASIL

0 comentários
Para quem tem toda a coleção, do início até o seu desaparecimento, pode considerar-se feliz. A revista ANIMAL fez parte da vida de muitos jovens e adultos nos anos 80 e 90. Quadrinhos vindos da Europa com inúmeros ilustradores e criadores famosos fizeram da época uma referência aos fanzineiros e fanáticos por quadrinhos.
Bons tempos.



HORA DE DORMIR

0 comentários
Passado meia noite. Já é hora de dormir, mas meus olhos não querem fechar e encontrar o escuro do meu quarto. Muitas lembranças do passado afloram em minha mente. Saem como gás pelos ouvidos e ouço um zunido que não quer parar.
Meu corpo quer ficar jovem, deixar de sentir dor...
Vou tomar um analgésico e dormir.

CRIADOR DE MUNDOS

0 comentários
Como diz o ditado, "nem tudo na vida são flores"... As vezes preferimos que as coisas fossem mais fáceis.





World Builder from Bruce Branit on Vimeo.